quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

FUNÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS CUIDADOS MATERNOS

Segundo Bowlby, a qualidade dos cuidados parentais que uma criança recebe nos primeiros anos de vida, é de importância vital para a sua saúde mental futura. É esta relação com a mãe, ou substituto maternal permanente, enriquecida com as relações com o pai e irmãos, que se encontra na base do desenvolvimento harmonioso, ou simplesmente normal da personalidade. De modo a percebermos o que se passa na situação de carência, parece-nos importante passar em revista algumas teorias sobre o nascimento da ligação entre o bebé e a mãe:
Teoria da Aprendizagem: aponta para a existência de um reforço secundário, proveniente da satisfação das necessidades fisiológicas de base (por um processo de condicionamento instrumental);
 Teoria Psicanalítica ortodoxa: defende que a instituição da relação objetal é consequência da dependência do objecio, das suas necessidades fisiológicas primárias, ou seja, o bebé vai ligar-se em primeiro lugar a quem cuida dele e lhe dá de comer. Durante os primeiros meses o bebé vive com a mãe uma relação pré-objetal. São estas primeiras experiências impessoais da fase da satisfação das necessidades, que são transformadas gradualmente em termos pessoais de relação com a mãe;
Teoria Etológica: que recebeu contributos da Psicanálise, trouxe-nos os conceitos de vinculação e de período sensível. As descobertas da Etologia vieram chamar a atenção para condutas mais ou menos independentes das necessidades fisiológicas e cuja função é antes de tudo social. Existe, assim, uma tendência primária inata para procurar a relação com o outro. Por outro lado, as observações de bebés apontam para a existência de momentos sensíveis, durante os quais o organismo se encontra mais recetivo a estimulação.

A CARÊNCIA OU AS CARÊNCIAS DOS CUIDADOS MATERNOS

Em sentido estrito, carência de cuidados maternos é considerada como uma insuficiência quantitativa de interação entre a mãe e o bebé: Podemos chamar distorção a insuficiência relacional qualitativa, que diz respeito a uma falta de adequação profunda da resposta da mãe as necessidades do seu bebé; Ocorre uma situação de separação quando existe descontinuidade na relação. Esta não implica forçosamente uma insuficiência quantitativa. No entanto, ao desencadear um quadro de angústia, devido a rutura dos laços estabelecidos, pode levar a que a criança se apresente menos apta a estabelecer uma nova relação com outra figura maternal.
Quanto as situações onde podem ocorrer carências afetivas precoces, e não encontra aí substituto maternal apropriado, recebe uma maternagem insuficiente ou não dispõe de possibilidades de interação com uma figura maternal; O bebé que vive com a sua mãe ou substituto maternal permanente, mas que não recebe estimulação suficiente e não tem possibilidade de interação adequada; O bebé que apresenta uma inaptidão para a interação. Incapacidade de estabelecer com a figura materna uma interação suficiente que pode ser devida a existência de ruturas anteriores repetidas.
A título de exemplo diremos que a separação da mãe vai ter repercussões diversas para o bebé segundo a sua idade. Até aos seis meses, quando ainda não existe um laço estabelecido, a perda da mãe representa essencialmente uma privação de estímulos. A partir desta idade, o bebé estabeleceu já um laço de vinculação. A perda da mãe consiste agora na rutura de um laço afetivo e os estímulos sensoriais como que passam para segundo plano.

EFEITOS NO DESENVOLVIMENTO


A necessidade de uma ligação afetiva, parece desempenhar um papel tão importante na estruturação da personalidade da criança, como o alimento na sua própria sobrevivência física. Como nos diz Bowlby, se o desenvolvimento das trocas afetivas precede todas as outras funções específicas, estas irão subsequentemente desenvolver-se a partir dos fundamentos fornecidos pelas primeiras. De facto, as situações de carência afetam não somente o desenvolvimento cognitivo, como podem igualmente afetar o conjunto do desenvolvimento.

Diogo Carvalho

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