Segundo Bowlby, a qualidade dos cuidados parentais que uma
criança recebe nos primeiros anos de vida, é de importância vital para a sua
saúde mental futura. É esta relação com a mãe, ou substituto maternal
permanente, enriquecida com as relações com o pai e irmãos, que se encontra na
base do desenvolvimento harmonioso, ou simplesmente normal da personalidade. De
modo a percebermos o que se passa na situação de carência, parece-nos
importante passar em revista algumas teorias sobre o nascimento da ligação entre
o bebé e a mãe:
Teoria da Aprendizagem: aponta para a existência de um
reforço secundário, proveniente da satisfação das necessidades fisiológicas de
base (por um processo de condicionamento instrumental);
Teoria Psicanalítica
ortodoxa: defende que a instituição da relação objetal é consequência da
dependência do objecio, das suas necessidades fisiológicas primárias, ou seja,
o bebé vai ligar-se em primeiro lugar a quem cuida dele e lhe dá de comer.
Durante os primeiros meses o bebé vive com a mãe uma relação pré-objetal. São
estas primeiras experiências impessoais da fase da satisfação das necessidades,
que são transformadas gradualmente em termos pessoais de relação com a mãe;
Teoria Etológica: que recebeu contributos da Psicanálise,
trouxe-nos os conceitos de vinculação e de período sensível. As descobertas da
Etologia vieram chamar a atenção para condutas mais ou menos independentes das
necessidades fisiológicas e cuja função é antes de tudo social. Existe, assim,
uma tendência primária inata para procurar a relação com o outro. Por outro
lado, as observações de bebés apontam para a existência de momentos sensíveis,
durante os quais o organismo se encontra mais recetivo a estimulação.
A CARÊNCIA OU AS
CARÊNCIAS DOS CUIDADOS MATERNOS
Em sentido estrito, carência de cuidados maternos é
considerada como uma insuficiência quantitativa de interação entre a mãe e o
bebé: Podemos chamar distorção a insuficiência relacional qualitativa, que diz
respeito a uma falta de adequação profunda da resposta da mãe as necessidades
do seu bebé; Ocorre uma situação de separação quando existe descontinuidade na
relação. Esta não implica forçosamente uma insuficiência quantitativa. No
entanto, ao desencadear um quadro de angústia, devido a rutura dos laços
estabelecidos, pode levar a que a criança se apresente menos apta a estabelecer
uma nova relação com outra figura maternal.
Quanto as situações onde podem ocorrer carências afetivas
precoces, e não encontra aí substituto maternal apropriado, recebe uma
maternagem insuficiente ou não dispõe de possibilidades de interação com uma
figura maternal; O bebé que vive com a sua mãe ou substituto maternal
permanente, mas que não recebe estimulação suficiente e não tem possibilidade
de interação adequada; O bebé que apresenta uma inaptidão para a interação.
Incapacidade de estabelecer com a figura materna uma interação suficiente que
pode ser devida a existência de ruturas anteriores repetidas.
A título de exemplo diremos que a separação da mãe vai ter
repercussões diversas para o bebé segundo a sua idade. Até aos seis meses,
quando ainda não existe um laço estabelecido, a perda da mãe representa
essencialmente uma privação de estímulos. A partir desta idade, o bebé
estabeleceu já um laço de vinculação. A perda da mãe consiste agora na rutura
de um laço afetivo e os estímulos sensoriais como que passam para segundo
plano.
EFEITOS NO
DESENVOLVIMENTO
A necessidade de uma ligação afetiva, parece desempenhar um
papel tão importante na estruturação da personalidade da criança, como o alimento
na sua própria sobrevivência física. Como nos diz Bowlby, se o desenvolvimento
das trocas afetivas precede todas as outras funções específicas, estas irão
subsequentemente desenvolver-se a partir dos fundamentos fornecidos pelas
primeiras. De facto, as situações de carência afetam não somente o
desenvolvimento cognitivo, como podem igualmente afetar o conjunto do
desenvolvimento.
Diogo Carvalho
Diogo Carvalho
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